Rompimento da barragem em Brumadinho: entenda o que aconteceu e saiba como a engenharia pode evitar outras tragédias


Blog da Engenharia- Janeiro/2019

Por Larissa Ferreguetti

Infelizmente, o ano de 2019 começou com uma notícia triste: o rompimento da barragem em Brumadinho. Pouco mais de três anos após a tragédia do rompimento da barragem em Mariana, o sofrimento se repete, agora na região metropolitana de Belo Horizonte. Será que a engenharia poderia ter ajudado a evitar o ocorrido? Como engenheiros, o que podemos fazer para evitar futuros desastres como esses?

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+ O rompimento da barragem em Brumadinho

A tragédia ocorreu no dia 25, em Brumadinho, uma cidade que fica na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A barragem, da Mina Córrego do Feijão, pertence à Vale.

Até o momento, tudo ainda é muito confuso. Não se sabe, exatamente, o número de pessoas que pode estar desaparecida. Várias pessoas foram resgatadas com vida, muitas feridas, e há vítimas fatais. O número de mortos, infelizmente, está aumentando. Deve levar alguns dias para que os números sejam definitivos.

O sofrimento é uma reprise do vivido em Mariana e há famílias devastadas. A lama atingiu também o refeitório da Vale, que estava cheio de funcionários no momento do acidente (estimou-se que o número de funcionários na mina no dia fosse de, aproximadamente, 427). Esse fato pode fazer com que o número de vítimas seja muito maior que o de Mariana.

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A lama atingiu o rio Paraopeba e a população no entorno do corpo hídrico foi alertada, visto que o nível da água poderia subir. O Paraopeba tem sua foz na represa de Três Marias e é um dos principais afluentes do São Francisco. Ele faz parte do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Até o momento, a Copasa, responsável pelo abastecimento de água da região, suspendeu a captação no rio, mas afirmou que outros sistemas estão abastecendo a população e que possuem volume de água e capacidade suficiente para isso.

O famoso Instituto Inhotim, que fica em Brumadinho, foi fechado e precisou realizar a evacuação dos visitantes. O acesso à cidade também está difícil

+ Barragem I da Mina Córrego do Feijão

Segundo a Vale, a Barragem I, que se rompeu, tinha a finalidade a disposição de rejeitos provenientes de produção e não recebia rejeitos atualmente. Estava em processo de descomissionamento.

A barragem foi construída em 1976, pelo método de alteamento a montante, e adquirida pela Vale em 2001. Tinha 86 metros de altura e 720 metros de comprimento. A área ocupada pelos rejeitos era de 249,5 mil metros quadrados e o volume de 11,7 milhões de metros cúbicos. Para efeitos de comparação, esse é um volume muito menor que o da barragem de Mariana, que foi de 43,7 milhões de metros cúbicos. Porém, o número de mortos de Brumadinho já superou o de Mariana

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No comunicado em seu site, a Vale afirma que a Barragem I tinha Declarações de Condições de Estabilidade e que passava por inspeções quinzenais. Havia, ainda, Plano de Ações Emergenciais de Barragem de Mineração e o sistema de alerta era funcional. Por isso, a empresa declarou que ainda busca as respostas para o que ocorreu.

+ O tamanho do impacto

 

É impossível valorar as vidas que foram perdidas. Os danos social e ambiental causados são gigantescos e a cidade de Brumadinho está destruída e arrasada. A população lamenta angustiada a perda de conhecidos e a destruição da cidade.

Ainda não é possível estimar todos os impactos provenientes do rompimento da barragem em Brumadinho. Apesar de o volume de rejeitos ser menor que o de Mariana, o número de mortos pode ampliar consideravelmente a tragédia. As imagens mostram que a lama tomou grande parte da região. Mesmo que a lama não seja tóxica, o material que fica nos rejeitos pode contaminar o solo e a água.

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Os feridos e os desabrigados estão sendo encaminhados para a cidade de Belo Horizonte. Vários grupos de voluntários se organizam no recebimento de doações. Porém, como há uma grande movimentação na região do acidente, muitos aguardam para fazer o deslocamento e a entrega das doações. Ainda, a Vale afirmou que prestará todo o auxílio necessário.

+ As minas de Minas

A revolta e a comoção não estão só na região de Brumadinho. Elas se espalham pelo país e pelo mundo. Afinal, embora a causa não tenha sido identificada, é provável que o ocorrido poderia ter sido evitado.

A questão ambiental no Brasil é polêmica. Embora existam instrumentos na legislação que visam resguardar o meio ambiente, como o Estudo de Impacto Ambiental, nem sempre tudo é feito de maneira ideal e há muitas falhas que poderiam ser evitadas se houvesse maior fiscalização e rigor.

A mineração, por exemplo, faz parte da história do estado de Minas Gerais e auxilia no seu desenvolvimento. Porém, é preciso ponderar o tamanho do impacto proveniente dessa atividade e exigir que a operação, a implantação e o descomissionamento ocorram de maneira adequada. No início do ano passado, foi divulgado que Minas Gerais tem mais de 400 barragens de rejeito e que, delas, cerca de 50 apresentavam riscos. A da Mina Córrego do Feijão não fazia parte da lista de risco.

Após o que houve em Mariana em 2015, uma barragem apresentou risco de rompimento em Congonhas em 2017-2018. Se as comunidades próximas a barragens já estavam com medo após 2015, certamente, a intensidade piorou depois do rompimento da barragem em Brumadinho.

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+ Como a engenharia pode evitar tragédias como esta?

Infelizmente, no Brasil, agir preventivamente não é uma prioridade. Várias barragens instáveis estão espalhadas pelo país, colocando em risco comunidades inteiras. Isso levanta o questionamento: até quando vermos pessoas, animais, casas, cidades e rios cobertos de lama?

Como engenheiros, precisamos cogitar todos os riscos e agir para que eles não aconteçam. É preciso parar de pensar que algo não vai acontecer porque o risco é baixo. Se existe um risco, mesmo que baixo, é porque há possibilidade de que a situação aconteça e é preciso trabalhar tanto para evitá-la quanto para ter um plano emergencial.

Também é preciso pensar além de simplesmente seguir a legislação para não receber uma multa ou algo parecido. Há uma diferença entre cumprir o que os órgãos ambientais exigem apenas por questões burocráticas e cumprir para evitar que tragédias aconteçam. Claro que, para isso, também é preciso que a legislação seja adequada. São pequenos pontos que, negligenciados, podem se acumular e causar tragédias como as que não queremos mais ver.

Precisamos pensar, em primeiro lugar, não na economia dos gastos, mas na preservação da vida e do ambiente. Não podemos ignorar pequenos riscos (principalmente os que são muito pequenos, mas com impactos negativos gigantescos), também é preciso monitorar adequadamente e ter planos de contenção e emergência. Afinal, é exatamente com isso que nos comprometemos ao fazer o juramento da Engenharia:

Prometo que, no cumprimento do meu dever de Engenheiro, não me deixarei cegar pelo brilho excessivo da tecnologia, de forma a não me esquecer de que trabalho para o bem do Homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou poluam, além de colocar todo o meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz comigo e com Deus.